Agricultores mudam de vida e ganham prêmios após a assistência técnica

A história de João Evangelista, dono de um pedaço de terra no município de Novo Repartimento, ao longo da rodovia Transamazônica, poderia ser igual a de milhares de agricultores brasileiros. Mesmo trabalhando na área rural desde criança, sua experiência de mais de 50 anos tirando das terras amazônicas o sustento de sua família mostra que sempre há espaço para inovação, com aumento de produtividade e preservação ambiental.

Há seis anos, ele e a esposa Maria Josélia receberam a primeira visita dos “meninos da Solidaridad”, como ele carinhosamente se refere aos técnicos da Fundação Solidaridad, nas suas plantações de cacau – cultura nativa da Amazônia. Desde então, viu sua produtividade aumentar em mais de 20% e ficou conhecido mundialmente pela sua amêndoa, que conquistou, no final de 2021, o segundo lugar na América do Sul no Cocoa of Excellence (Cacau de Excelência) – maior premiação global do segmento -, e figura entre as 50 melhores do mundo.

E Seu João tem novo motivo para comemorar: a barra Nicolas Chocolate do Belga 72%, produzida com suas amêndoas pelo chocolateiro Nicolas Danaux, foi medalha de prata no concurso Belgium Chocolate Awards 2022, cujo resultado foi divulgado no último dia 31 de maio. Trata-se de uma grande conquista, uma vez que a Bélgica é conhecida por ter o melhor chocolate do mundo, com técnicas avançadas de produção e aprimoramento.

Dono de uma propriedade de 42 hectares no assentamento rural Tuerê, a 130 quilômetros do centro da cidade, ele divide sua produção de cacau com uma pequena criação de gado, de cerca de dez cabeças, e de peixes. “Com a vinda da Solidaridad, as coisas mudaram. Eles são muito eficientes e viraram meus amigos. Convivemos e estamos sempre nos comunicando. Eles que me colocaram hoje no lugar que estou”, comemora o cacauicultor, com muita gratidão.

Nas terras do agricultor, os técnicos da Fundação Solidaridad fizeram análise de solo, orientaram sobre os insumos agrícolas necessários, o adubo que era preciso colocar e as formas de aproveitamento da colheita. Com a assessoria, Seu João se animou a ampliar a produção em outras culturas e o plantio de espécies arbóreas nativas. “Junto com os meninos da Solidaridad, estou implantando o Sistema Agroflorestal (SAF). Eles fornecem as mudas e os insumos”, destaca.

 

Melhores do mundo

Trabalhando na roça com os pais desde os cinco anos, João Evangelista começou a produzir cacau aos 18 anos, em São Félix do Xingu. Deixou a produção de amêndoas quando se mudou, em 2013, para Novo Repartimento, onde conseguiu um pedaço de terras. Com o apoio da Solidaridad, voltou à cultura e, em pouco tempo, figurou na lista das 50 melhores amêndoas do mundo e se viu no evento global mais importante do setor: o Salão do Chocolate de Paris, cuja última edição aconteceu em outubro de 2021, na capital francesa.

“Uma festa inesquecível! Uma festa de destaque. Conheci lugares que não conhecia. Foi um prêmio, já que tive a oportunidade de visitar outro país”, lembra o Seu João. Algumas semanas depois, soube, durante a transmissão da cerimônia do Cocoa of Excellence, que sua amêndoa tinha levado medalha de prata na América do Sul. Ele também conheceu a Bahia, durante viagem a Ilhéus para cerimônia do III Concurso Nacional de Qualidade de Cacau Especial do Brasil, onde trocou experiências com outros produtores brasileiros.

Além de fazer sua amêndoa de cacau ficar conhecida mundialmente, o prêmio abriu portas para novos negócios. Chocolaterias artesanais da França e de estados como São Paulo e Santa Catarina se tornaram clientes da Coopercau, cooperativa de Novo Repartimento responsável por vender a colheita de João Evangelista e de vários outros produtores atendidos pela Fundação. “Aqueles que não quiseram colocar em prática os ensinamentos dos meninos da Solidaridad se arrependeram”, comenta.

 

Programa Amazônia

A família de João Evangelista é uma das centenas de famílias de pequenos produtores e produtoras de cacau e de pecuária de cria que recebem assistência técnica no âmbito do Programa Amazônia, iniciado em 2015 no Tuerê, um dos maiores assentamentos rurais da América Latina. Com a iniciativa, a Solidaridad promove a inclusão socioeconômica de agricultores familiares na região da Transamazônica.

Os últimos resultados do Programa Amazônia demonstram que, entre 2016 e 2021, 74% das propriedades há mais tempo engajadas deixaram de desmatar. No mesmo período, houve recuo de 64% da taxa de desmatamento, saindo de 195 hectares por ano para quase 71 hectares por ano. Além disso, houve um incremento de 27% na renda bruta média dos produtores.

 

Próximos passos

“Os planos são continuar plantando, colhendo, vivendo em cima do pedacinho de chão que a gente tem e conservando a natureza”, analisa Seu João. No auge dos seus 58 anos, ele acredita que ainda tem fôlego para seguir adiante, especialmente com a boa notícia que recebeu sobre a continuidade do trabalho da Solidaridad com o RestaurAmazônia. Realizado em parceria com o Fundo JBS pela Amazônia, o projeto investirá R$ 25 milhões para auxiliar produtores de cacau e pecuária de Novo Repartimento e mais dois municípios – Anapu e Pacajá – até 2026.

O RestaurAmazônia pretende promover boas práticas agropecuárias, via assistência técnica e extensão rural, com a implantação de SAFs em áreas de pastagem degradada, tendo o cacau como carro-chefe. A meta é atender 1,5 mil famílias produtoras dos três municípios e preservar mais de 20 mil hectares de floresta nativa.

“Também temos como meta que a renda média oriunda das atividades produtivas passe de R$ 63 mil para R$ 82 mil anuais por propriedade, aumento de 30% para as famílias produtoras”, revela o Diretor da Fundação Solidaridad, Rodrigo Castro. Para o cacau, a produção deve passar de 720 kg para até 1.150 kg por hectare ao final de cinco anos. Já em relação à intensificação da pecuária de cria, a previsão é que a produtividade suba 20%, passando de 18 para 22 bezerros anuais por propriedade.

 

Fundação Solidaridad

A Fundação Solidaridad é uma organização internacional da sociedade civil com mais de meio século de atuação em mais de 40 países. Trabalha para o desenvolvimento de cadeias agropecuárias socialmente inclusivas, ambientalmente responsáveis e economicamente rentáveis. Busca acelerar a transição para uma produção inclusiva e de baixo carbono, contribuindo para a segurança alimentar e climática do mundo. Atualmente desenvolve com seus parceiros no Brasil iniciativas de sustentabilidade nas seguintes cadeias: cacau, café, cana-de-açúcar, erva-mate, laranja, pecuária e soja.

 

Fonte: O Liberal

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