Responsável pelo consumo de quase 10% da safra cacaueira mundial, a Mondelez International lançou há duas décadas o programa global de sustentabilidade Cocoa Life, que envolve mais de 200 mil produtores ao redor do mundo, muitos deles da Bahia e do Pará. “No Brasil, o trabalho teve início há dez anos por meio do projeto Renova Cacau, com foco na Bahia, oferecendo capacitação técnica e pesquisas para aprimorar a qualidade do cacau e garantir a sustentabilidade da produção”, diz Liel Miranda, presidente da Mondelez International Brasil.
“Em 2018, o projeto chegou ao Pará, promovendo, além da capacitação técnica, a restauração do bioma, transformando áreas que antes eram pasto degradado em agrofloresta para cacau e outros cultivos.”
As metas são ambiciosas. Espera-se que toda a produção de chocolate da companhia no país venha do Cocoa Life até 2024. Segundo Liel, já foram investidos mais de R$ 10 milhões em dez anos de programa, beneficiando mais de três mil pessoas, entre produtores, familiares e trabalhadores indiretos.
Maior produtora de cacau do país, a Bahia tem cerca de 69 mil produtores, dos quais 16 mil no sul do Estado, distribuídos por 26 municípios. “Trata-se de uma cadeia de renda baixa”, diz Esteban Sartoreli, fundador da Dengo, rede de lojas de chocolates finos.
“Tão importante quanto promover uma renda justa é garantir um modelo agrícola sustentável”. Criada em 2017 para ser um negócio de impacto social, a Dengo capacita o produtor e pratica o que chama de preço justo.
“Em 2021, os 145 produtores ativos com os quais negociamos receberam valores 91% superiores ao preço de mercado”, afirma Sartoreli. “É possível fazer diferente e criar modelos sustentáveis, que compartilhem valor em sua cadeia.” Com 31 lojas e um consumo superior a 150 toneladas de cacau por ano, a Dengo tem por compromisso dobrar a renda de pelo menos 3 mil famílias produtoras de cacau até 2030.
Foi prestando consultoria para o Sebrae em Medicilândia (PA), que Cesar Mendes enxergou a oportunidade de investir na produção de chocolate com características da Amazônia. “A proposta era trabalhar com cacau nativo, extraído de dentro da floresta de maneira sustentável ou plantado em sistema de agroflorestal”, diz Mendes. “Treinamos comunidades locais com técnicas de pré-processamento. Hoje nos relacionamos com 480 comunidades em todos os Estados da Amazônia, e 71 delas são nossas fornecedoras.”
São seis bases de pré-processamento, que fornecem na faixa de duas toneladas de cacau por ano cada uma para a Chocolate De Mendes. Recebem em média R$ 35 por kg, bem acima da média do mercado, na casa dos R$ 12. “Pagamos mais por reconhecimento da importância do trabalho deles de manter a floresta em pé, por uma questão socioambiental”, diz.
“Impactamos diretamente a vida de 3.500 pessoas, que passaram a ter uma atividade econômica aliada à preservação ambiental, ajudando na conservação de 300 mil hectares de floresta.” Na visão do empresário, não existe ação sem impacto social ou ambiental, o desafio está em promover a economia local, preservando as comunidades locais e a floresta.
Fonte: Valor Econômico
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