ONG Tabôa fez a emissão em dezembro de 2020 para dar apoio financeiro e técnico a produtores de cacau do sul do Estado

O Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) sustentável emitido em dezembro de 2020 pela ONG Tabôa para apoiar financeira e tecnicamente agricultores familiares de cacau do sul da Bahia conseguiu incluir produtores que antes estavam à margem do sistema financeiro e aumentou a renda média dos envolvidos em 38,9%.

A emissão do CRA captou R$ 1,05 milhão, no modelo “blended finance”, em que a Tabôa arcou com a cota de maior risco da operação. A emissão foi realizada junto com o Grupo Gaia e os institutos Arapyaú e Humanize.

Com os recursos, foram fechadas 205 operações de financiamento na primeira rodada para 184 produtores, que somaram quase R$ 1,4 milhão concedidos. Na prática, os recursos alcançaram 578 pessoas, se forem incluídos também os familiares dos tomadores de crédito.

O aumento da renda média dos agricultores em relação ao período anterior à tomada de crédito é explicado pela melhoria da produtividade, que aumentou em média 36,2%, por causa do apoio técnico que foi concedido em paralelo.

A assistência técnica orientou os produtores tanto sobre o uso dos recursos financeiros quanto sobre as técnicas empregadas. Segundo a Tabôa, praticamente todos os agricultores atendidos (99,5%) adotaram novas práticas de adubação e manejo da produção.

Além disso, o aumento da produção de cacau para o mercado de amêndoas finas, que paga mais que o mercado de commodities, também ajudou a melhorar a situação dos agricultores. Segundo a Tabôa, 36 produtores passaram a produzir cacau de qualidade e viram sua renda crescer 58,6%. Agora, 44 produtores financiados atendem esse nicho, contra 16 anteriormente.

Os produtores tomaram o crédito por um valor médio de R$ 6.713,68 e a uma taxa de 1% ao mês, com prazo de três anos. Com todos os recursos desembolsados, o resultado até o momento foi uma taxa de inadimplência foi de 0,48%, bem abaixo do esperado para projetos de impacto.

 

Baixa inadimplência

Segundo Roberto Vilela, diretor-executivo da Tabôa, a baixa inadimplência é explicada pela assistência técnica oferecida e pela estruturação de garantias solidárias, ou compartilhadas, que representaram 73% das operações realizadas. Nesta modalidade, foram formados grupos de três a 12 produtores que, em caso de não pagamento por um dos membros, os demais cobriam em conjunto a parte do inadimplente.

A concessão de crédito também buscou atender critérios ambientais e sociais. Todos os agricultores tinham que cultivar o cacau no sistema cabruca (em conjunto com a floresta), comprometeram-se a não ter trabalho infantil e a preservar áreas de proteção permanente (APPs).

As operações tiveram uma forte presença de assentados e mulheres, que viram sua renda aumentar mais do que a média das operações realizadas. Os assentados representaram 67,8% das operações e tiveram um aumento médio de renda de 42,5%. As mulheres agricultoras representaram 33,2% do crédito concedido e melhoraram sua renda em 43,9%.

Houve ainda apoio a modelos de produção agroecológicos, o que resultou no cultivo de outros alimentos. Em média, cada agricultor apoiado produziu 4,8 culturas diferentes, incluindo o cacau.

“Com esse programa, queremos melhorar a qualidade de vida no campo, estimular a produção de cacau de qualidade e proteger a sociobiodiversidade, o que está se mostrando viável”, disse Thais Ferraz, diretora-executiva do Arapyaú, em nota.

 

Fonte: Valor Econômico

Foto: Jeser Andrade Arango/Pixabay