No mesmo período, a indústria processou quase 3% a mais de amêndoas na comparação com o trimestre anterior

 

O terceiro trimestre de 2023 registrou crescimento de 5% no volume recebido de amêndoas nacionais, pela indústria processadora de cacau. Foram 69.646 toneladas recebidas no período, em contraste com as 66.075 toneladas recebidas no trimestre anterior, de acordo com os dados compilados pelo SindiDados – Campos Consultores e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). “O aumento já era esperado, já que houve atraso nas entradas da safra temporã, em razão de questões climáticas e de perdas causadas por pragas, como a vassoura de bruxa e a podridão parda. Apesar dos números positivos, existe uma expectativa de que o volume final fique aquém do esperado. Muitos produtores têm reportado perdas consideráveis por causa dessas pragas”, explica a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi.

 

Na comparação do volume de recebimento acumulado de janeiro a setembro de 2023 com o volume de recebimento do mesmo período de 2022, houve um acréscimo de 6%, passando de 153.515 toneladas, no ano anterior, para 162.766 toneladas, em 2023. Losi explica, entretanto, que houve um aumento no número de empresas que reportam seus dados para o SindiDados: “Até 2022, somente cinco empresas reportavam as informações relacionadas a recebimento e processamento de amêndoas. Todavia, há um esforço constante para que os dados setoriais sejam ainda mais fidedignos e, desde janeiro de 2023, são seis empresas que reportam essas informações para o SindiDados, aumentando, assim, a base de dados”.

 

No terceiro trimestre, foram processadas 64.024 toneladas de amêndoas, um crescimento de 3% em relação às 62.426 toneladas do trimestre anterior. No que diz respeito ao acumulado do ano, período de janeiro a setembro de 2023, o processamento cresceu cerca de 15% na comparação com o mesmo período do ano anterior, passando de 165.356 toneladas para 190.466 toneladas. “O cenário mais estável e positivo da produção tende a impactar positivamente os níveis de processamento. Além disso, as expectativas de crescimento da produção nacional têm incentivado o aumento dos investimentos em capacidade de processamento. Destaca-se que, neste trimestre, não houve importação de amêndoas de cacau”, pondera Anna Paula.

 

As exportações de derivados, que atendem principalmente os mercados da Argentina, Estados Unidos e Chile, nessa ordem, recuaram 13% no terceiro trimestre de 2023, passando de 12.400 toneladas, no segundo trimestre, para 10.764 toneladas no último trimestre. Anna Paula explica que “apesar de refletir as tendências dos últimos anos, na comparação por período, há uma retração nas exportações impulsionada pelo comércio com a Argentina, cuja queda foi de 22%. O país vizinho é o principal mercado dos derivados brasileiros e tem passado por uma crise econômica há alguns anos, o que tem impactado negativamente a exportação para este país”.

 

Recebimento por estado

 

A Bahia foi responsável por 57,31% do volume total de amêndoas nacionais recebidas pela indústria processadora, no terceiro trimestre de 2023, totalizando 39.920 toneladas. Em comparação com o trimestre anterior, quando o volume fornecido pelo estado foi de 37.149 toneladas, houve um crescimento de aproximadamente 7%. O Pará foi responsável por 39% do volume total recebido no trimestre, totalizando 27.160 toneladas, valor estável se comparado com o trimestre anterior, quando o recebimento foi de 27.028 toneladas. Espírito Santo (1.923 toneladas), Rondônia (605 toneladas) e outros estados (38 toneladas) foram responsáveis por 3,7% do volume total recebido no terceiro trimestre de 2023.

 

 

Análise do mercado internacional

 

Leonardo Rossetti e Alan Lima, do departamento de Mercardo da StoneX, avaliam que o mercado de cacau tem sido marcado por uma tendência de alta nas cotações dos futuros desde o segundo semestre de 2022. As bolsas de Nova Iorque e Londres registraram máximas de 12 e 46 anos, respectivamente, refletindo uma preocupação generalizada sobre uma possível escassez na safra 2023/24. Essa apreensão tem sua raiz no fenômeno El Niño, que tem o potencial de afetar adversamente o clima na principal região produtora de cacau, o oeste africano. O El Niño tende a trazer temperaturas mais elevadas e um clima mais seco, o que prejudica o desempenho das lavouras de cacau.

 

Apesar das chuvas acima da média na Costa do Marfim, que é o maior produtor mundial de cacau, terem garantido um suprimento adequado de água nas plantações, existe ainda uma certa inquietação sobre a oferta de amêndoas. No entanto, essa preocupação é mitigada pelo bom desempenho inicial esperado na safra, que se estende até dezembro.

 

A Organização Internacional de Cacau (ICCO) revisou suas estimativas de déficit global para a temporada 2022/23, passando de -142 mil para -116 mil toneladas de amêndoas. Ainda que tenha havido uma leve melhora no balanço, os estoques globais permanecem em declínio e a preocupação com a produção na próxima safra continua a impulsionar os preços. A incerteza persiste em relação ao possível terceiro déficit consecutivo no balanço de oferta e demanda do mercado de cacau na temporada 2023/24.

 

Em relação ao El Niño, caso o fenômeno se intensifique, pode impactar o Harmatã, um vento seco e poeirento que sopra do Deserto do Saara em direção ao Atlântico, durante a estação seca no oeste africano. Isso poderia resultar em perdas consideráveis na produção em 2024.

 

Em resumo, o mercado de cacau está em um momento de grande volatilidade, influenciado por fatores climáticos, variações na oferta e demanda, e adaptações na indústria chocolateira, em resposta aos preços em alta. O fenômeno El Niño e seus possíveis efeitos sobre a produção de cacau continuam a ser uma fonte significativa de incerteza no mercado, o que tende a manter os preços suportados.