Coordenado por Salo Coslovsky, professor associado da New York University, grupo trabalha para propor soluções que melhorem desempenho comercial dos produtos da floresta

O Brasil já foi um forte produtor e exportador de cacau, com 23% de participação no mercado global em 1983. A praga da vassoura-de-bruxa provocou um súbito declínio na produção, que hoje é quase toda voltada ao mercado doméstico. A demanda global pela amêndoa é de 5 milhões a 6 milhões de toneladas ao ano, e para o Brasil recuperar a posição que teve no passado, teria que multiplicar por cinco sua produção. O potencial e as oportunidades são grandes.

Para examinar os gargalos da cadeia do cacau, que é nativo da Amazônia, pesquisadores coordenados por Salo Coslovsky, professor associado da New York University, criaram uma nova linha de pesquisa, com a qual pretendem apontar soluções para melhorar o desempenho dos produtos da floresta no mercado internacional. Trata-se de um negócio estimado em US$ 159 bilhões. A Amazônia disputa espaço com 64 produtos compatíveis com a floresta, mas sua fatia é de apenas 0,17%.

A baixa participação do cacau no mercado externo também ocorre com outros produtos da Amazônia brasileira, segundo um estudo que Coslovsky fez em 2021 dentro do projeto Amazônia 2030. Na lista de 64 produtos estão, entre outros, dendê, mel, pimenta-do-reino e castanha-do-Brasil.

Empresas dos nove Estados da Amazônia Legal produzem esses itens, que giram US$ 300 milhões ao ano, mas o potencial é muito maior. A estimativa é que os embarques de cacau, dendê, mel, pimenta-do-reino e castanha-do-Brasil poderiam dar à Amazônia uma receita de US$ 2,3 bilhões ao ano, ou sete vezes maior que a atual, apenas se alcançassem a participação média das exportações brasileiras.

A iniciativa de pesquisa lançada agora, o Infloresta, é um dos desdobramentos do Amazônia 2030, um levantamento científico sobre a economia, a floresta e as sociedades na Amazônia. Os 60 pesquisadores que participaram do projeto elaboraram, ao todo, 51 relatórios.

O primeiro passo do Infloresta é estudar a cadeia do cacau, produto que movimenta US$ 9 bilhões ao ano no mundo. Hoje, o Brasil ocupa hoje o sétimo lugar no ranking de produção. A Costa do Marfim, atual líder, que responde por 40% do total, exportou cacau para 39 países entre 2017 e 2019, e a Amazônia, somente para quatro.

 

Problemas estruturais

O estudo da cadeia do cacau, um dos produtos mais icônicos entre os 60 que os pesquisadores identificaram, parte de duas premissas, diz Coslovsky. “Muitos acreditam que não há como a produção econômica avançar na Amazônia antes da resolução de seus graves e históricos problemas estruturais, como PIB e infraestrutura piores que os do resto do país”, diz. No entanto, o estudo das exportações mostra, segundo ele, que países em condições iguais ou piores que as do Brasil em termos políticos, sociais e econômicos – Bolívia, Uganda, Indonésia – têm tido sucesso nos esforços para ampliar o comércio de produtos da floresta.

A segunda premissa é entender os desafios de cada produto, e não nas escalas estadual ou municipal. “Acreditamos que o desafio do cacau é específico do cacau. O da castanha, é específico da castanha. Apostamos na abordagem por produto para identificar os gargalos na organização das cadeias”, diz o pesquisador.

Para ele, se o Brasil quiser voltar a ser o que foi em 1983 no segmento da amêndoa, terá que melhorar o rendimento das plantações. “Hoje, a produtividade média brasileira é de menos de 500 quilos por hectare, que é baixa”, diz Coslovsky. O cacau será o primeiro estudo do Infloresta, projeto apoiado pelo Plano Amazônia (iniciativa conjunta do Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander), Amazônia 2030, Instituto Arapyaú, Instituto Humanize e Kawa Capital.

 

Fonte: Valor Econômico

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