Turismo rural também tem sido opção para os produtores gerarem renda e valorizarem a cacauicultura baiana

Diante da queda em um ano de quase R$ 100 na cotação da arroba do cacau commodity, o agricultor baiano só vê um caminho para ter lucro com a atividade: investir cada vez mais na produção de cacau fino para fabricação própria do chocolate ou para abastecer o mercado de chocolates premium, em ascensão no Brasil e no exterior. Nesse cenário, o cacau commodity, que ainda representa 80% da produção nacional, praticamente não recebe manejo e é entregue às indústrias sem fermentação.

“A indústria moageira não paga por qualidade. O manejo do cacau é uma atividade cara e totalmente manual que implica em novos plantios, poda, adubação, eliminação da vassoura de bruxa e da podridão parda. Devido ao baixo preço e ao alto custo de produção, a maioria só faz o essencial para colher o cacau e entregar na indústria”, diz Raimundo Mororó, gerente do conjunto de fazendas Riachuelo, que soma 2 mil hectares em Ilhéus (BA) e empregava 400 pessoas antes da pandemia. Hoje, tem menos de 100 funcionários.

Segundo Mororó, a instabilidade de preços nas fábricas é antiga, a arroba (15 kg) chegou a custar R$ 270 em maio de 2021, mas, desde então, o preço só caiu. Neste início de agosto, está cotada na Bolsa de Nova York equivalente a R$ 178.

Enquanto mostra um cacaueiro comum infectado pela vassoura de bruxa (praga que atingiu as lavouras da Bahia no final dos anos 80 e foi responsável pela maior crise do setor, derrubando a produção em até 70%), o gerente diz que a produtividade atual das roças da Riachuelo não passa de 50 arrobas por hectare e seria necessário pelo menos 60 arrobas para cobrir os custos de produção.

Na Riachuelo, Mororó é sócio-diretor da planta industrial de chocolates bean to bar (da amêndoa à barra) que leva a marca Mendoá, com uma fabricação de 400 kg de chocolate por dia, sendo 40% produção orgânica. A fazenda também exporta cacau fino para a produção de um chocolate de origem na França.

O técnico agrícola mineiro Carlos Tomichi, que, junto com a mulher Taís, comprou há dez anos 140 hectares de uma fazenda no município vizinho de Uruçuca, que fica na Estrada do Chocolate, diz que 65 arrobas por hectare já equilibram os custos, mas a maioria das propriedades da região de Ilhéus não está colhendo mais de 20 arrobas por hectare. “Vim para cá por uma oportunidade de investimento porque o preço da terra é bem mais baixo na comparação com outras regiões. Mas, tive que agregar valor ao negócio para torná-lo viável.”

 

Fonte: Globo rural

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