No mesmo período, a indústria processou quase 12% a mais de amêndoas, na comparação com 2022

 

O ano de 2023 registrou crescimento de 7% no volume recebido de amêndoas nacionais, pela indústria processadora de cacau. Foram 220 mil toneladas recebidas no período, em contraste com as 205 mil toneladas recebidas em 2022, de acordo com os dados compilados pelo SindiDados – Campos Consultores e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). “nos últimos anos tivemos um crescimento constante da produção de amêndoas de cacau no Brasil, reflexo dos diversos investimentos que estão sendo realizados por diferentes atores da cadeia, com foco na melhoria da produtividade e nas novas áreas produtivas”, explica a presidente-executiva da AIPC, Anna Paula Losi.

 

Na comparação do volume de recebimento do quarto trimestre, ou seja, do período de outubro a dezembro de 2023, com o volume de recebimento do terceiro trimestre do mesmo ano, houve uma queda de 17,6%, passando de 69 mil toneladas para 57 mil toneladas.

 

Já a industrialização de cacau no País, em 2023, teve um crescimento de 12%, frente aos números de 2022, o melhor número dos últimos cinco anos, alcançando o volume de mais de 253 mil toneladas de amêndoas de cacau. Anna Paula afirma que “esses números comprovam o fortalecimento da cadeia produtiva, temos um maior volume de amêndoas sendo produzidas pelo País e, consequentemente, a indústria consegue ampliar sua produção”.

 

As exportações de derivados, que atendem principalmente os mercados da Argentina, Estados Unidos e Chile, nessa ordem, mantiveram-se praticamente estáveis em 2023, foram 47 mil toneladas no ano. Anna Paula explica que “o aquecimento do mercado interno, aliado a condições especificas no mercado internacional, fez com que o volume no ano não se alterasse relevantemente”.

 

Recebimento por estado

 

A Bahia foi responsável por 61,9% do volume total de amêndoas nacionais recebidas pela indústria processadora em 2023, totalizando 136 mil toneladas. Em comparação com o ano anterior, quando o volume fornecido pelo estado foi de 139 mil toneladas, houve um recuo de aproximadamente 2,4%. O volume fornecido pelo estado é expressivo e positivo, especialmente quando consideradas as condições climáticas adversas dos últimos meses, em virtude do fenômeno El Niño.

 

O Pará, por sua vez, foi responsável por 33,7% do volume recebido, totalizando 74.mil toneladas, crescimento de 31,3% na comparação com o ano anterior, quando o recebimento foi de 56 mil toneladas. Espírito Santo (7.568 toneladas), Rondônia (1.888 toneladas) e outros estados (177 toneladas) foram responsáveis por 4,4% do volume total recebido no ano de 2023.

 

Análise do mercado internacional

 

Alan Lima e Leonardo Rossetti, do departamento de Mercado da StoneX, avaliam que, entre outubro e dezembro de 2023, as cotações dos futuros de cacau na Bolsa de Nova Iorque (ICE/US) registraram um avanço de 21,4%, fechando o ano em USD 4.162/ton, representando uma alta de 60% nos últimos 12 meses, após ter atingido, em dezembro, seus maiores valores na história na bolsa.

 

De acordo com Lima e Rossetti, a forte escalada de preços da amêndoa durante o período se deu principalmente devido a problemas com a sua oferta, com o resultado abaixo do esperado da safra 2022/23 — a qual, segundo dados revisados da Organização Internacional de Cacau (ICCO), teve um saldo negativo de 99 mil toneladas no balanço de O&D — e a perspectiva de um terceiro déficit consecutivo no saldo global, o que tem sido reforçado pelo desempenho negativo da safra 2023/24, cujas entregas semanais têm ficado abaixo da média dos últimos anos. “Desde o início da temporada, em outubro/23, até a primeira semana de 2024, na Costa do Marfim, maior país produtor do mundo, foram registradas 873 mil toneladas de amêndoas de cacau entregues, 35% abaixo em relação ao mesmo período do ano passado, quando o país havia entregado 1,3 milhões”, explicam os analistas.

 

No Oeste Africano — principal região produtora de cacau — produtores locais relataram, no último ano, inundações nas lavouras, além da ocorrência de El Niño a partir do segundo semestre, fenômeno climático que tende a deixar o clima mais quente e seco na Costa do Marfim e Gana, os líderes globais na produção cacaueira. Adicionalmente, os cacaueiros na região têm passado por um processo de envelhecimento, o que contribui para limitar a produtividade em algumas áreas.

 

Assim, o desempenho das lavouras tem sido prejudicado, intensificando as pressões altistas sobre os preços globais da commodity, ao passo que a demanda continuou a se mostrar resiliente durante o período, apesar da forte inflação registrada nos Estados Unidos e Europa, os maiores mercados consumidores de cacau, conclui o time da StoneX.

 

Nova associada

 

A Indústria Brasileira de Cacau (IBC) é a mais nova associada da AIPC. A IBC, fundada em 2005 por Francisco Monteiro de Pinho e seu filho, Maurício Dati de Pinho, possui duas plantas industriais, uma em Rio das Pedras-SP e outra em Belém-PA. A chegada da IBC e a ampliação do número de associadas da AIPC fortalecem ainda mais a representação do setor, especialmente ao trazer o olhar de uma nova empresa para as discussões e ações que visam o desenvolvimento sustentável e a inovação na indústria cacaueira brasileira. De acordo com Maurício, “a ideia é sempre somar, participar e fortalecer a cadeia do cacau como um todo. O Brasil tem a grande possibilidade de ser grande produtor de cacau nos próximos 10 anos, e a gente quer participar disso com diversidade, tecnologia e com a nossa força de trabalho e desenvolvimento”.